Duarte Galvão
Eustáquio Gomes escreveu um livro bem-humorado, leve e de uma ironia
quase queirosiana, com aspectos históricos e sociológicos
interessantes. O enredo tem como eixo a paixão desvairada entre
a jovem esposa de um barão do Império e um médico,
numa Campinas atingida por uma violenta epidemia de febre amarela, no ano
da Proclamação da República.
Uma extensa galeria de personagens é apresentada: os intelectuais,
o padre liberal, as figuras do "establishment", um profético anarquista,
os imigrantes etc. Todos eles se entrelaçam numa sociedade abalada
nos seus alicerces pela epidemia e pela decadência do regime.
Um dos pontos altos é a maneira original pela qual o texto é
construído. São sketches que se sucedem em ritmo vertiginoso
mudando rapidamente de enfoque. O livro está dividido em três
partes: na primeira, a narartiva é feita sob a forma de folhetim;
na segunda privilegia os lugares onde se passa a história, lançando
novas luzes sobre o assunto; na terceira, faz o mesmosó que com
as personagens direta ou indiretamente envolvidas.
É sempre bom saber que o mercado editorial está dando oportunidade
a gente nova. Não há dúvida de que esta coleção
teve uma estréia das mais auspiciosas. Como resslva fica o extremo
mau gosto do título e da capa, esta digna de um romance pornográfico
de terceira categoria. Que isto não afaste os leitores, porque estariam
perdendo um dos melhores lançamentos dos últimos tempos.
O Globo, 23 de setembro de 1984 |