O Brasil oficial e o real
Antonio Alvarez
O futebol deu pouco assunto para
a literatura brasileira, um esporte nacional raramente enfocado por autores
do Brasil. Eustáquio Gomes quebrou essa regra fazendo do futebol
leift-motiv para seu romance Os Jogos de Junho. Enquanto a Copa de 70 transcorre
num clima de glória atiçando os brios patrióticos
do povo, um personagem vagueia por um ambiente miserável ressaltando
a defasagem entre o Brasil oficial e o Brasil real.
Organizado em capítulos
intitulados “Oitava”, “Quartas”, “Semifinal” e “Final”, Os Jogos de
Junho constrói um paralelo entre a escalada para a conquista
da seleção brasileira e a inevitável decadência
da personagem principal. Juabre, funcionário de um jornal, não
tem a grandeza de Pelé, Tostão e companhia. O espaço
que ocupa não é o monumental estádio de Jalisco, mas
um pardieiro numa não muito bem definida cidade do interior de Minas.
Eustáquio Gomes alterna
textos não literários em seu romance. Trechos de jornal,
citações, depoimentos servem de base para a trama do livro
atingir seu clímax. O autor consegue, a partir desse recurso, unir
as exigências do conteúdo com a funcionalidade da forma. Os
Jogos de Junho mostra um escritor preocupado com a inovação
do texto e empenhado numa reflexão.
Em início de carreira, esse
é seu terceiro livro; mostra um amadurecimento no tratamento do
texto. Os Jogos de Junho é um livro interessante e revela
um outro lado daqueles dias de 1970.
O Globo, 10 de janeiro de 1982 |