Jonas Blau estréia
no Caderno 2
Nos anos 80, um escritor mais
para telenovela do que para Charles Dickens...
“Não se pode querer ser Charles
Dickens em tempos de Roque Santeiro” — afirma o mineiro-campineiro Eustáquio
Gomes, 33 anos, autor de A Febre Amorosa (EMW, 1985).
"O folhetim de hoje é a novela de televisão", ele diz.
E foi acreditando nisso que começou a escrever Jonas Blau,
que será publicado diariamente no Caderno 2. Como naqueles velhos
bons tempos... de Charles Dickens.
Em Jonas Blau, a ação
se passa há 22 anos. Exatamente no mês de abril, de
um ano que ficou mal-afamadamente na história: 1964. O cenário
é um colégio católico do interior de Minas, e o tema
principal são os efeitos que o golpe de 64 produziu na vida diária
de um grupo de garotos. "É também um romance sobre
a tirania", explica o autor, preocupado em mostrar que, às vezes,
os tiranos são produzidos pelas circunstâncias: "Geralmente,
eles nascem dos oportunistas e amedrontados".
Eustáquio Gomes publicou
até agora cinco livros: um de poemas, um de contos, dois romances
e um ensaio curto sobre Ernest, Hemingway - de quem, aliás, se considera
a antítese: é baixo, pouco viajado, não costuma matar
sequer moscas e não é nem um pouco chegado a coquetéis.
Talvez por isso mesmo, em Jonas Blau seu herói não
será um capitão de longo curso, às voltas com serpentes
voadoras. Nem um Indiana Jones perdido nas matas do Xingu, tentando
descobrir o terrível segredo da pajelança antes que os russos
cheguem. Para ele: ."O homem perplexo de nosso tempo está
em busca de sua identidade. E por essa razão os grandes aventureiros
de hoje já não operam nos Mares do Sul, mas nos domínios
da mente".
Sobre seu livro anterior, A
Febre Amorosa, disse o crítico Fausto Cunha: "O autor atinge
por vezes a finura de um Machado de Assis". E é justamente
esse livro que o compositor erudito Almeida Prado está transformando
em ópera. E, se tudo der certo, deve chegar em breve também
ao cinema. Mas, sobre isso, Eustáquio prefere manter segredo.
Enquanto vai elaborando, também em segredo, as tramas folhetinescas
de Jonas Blau.
O Estado de São Paulo
(1986)
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