“O Vale de Solombra” traz o texto
e o humor cada vez mais refinados de Eustáquio Gomes
No novo romance do escritor mineiro
radicado em Campinas, reverberam autores clássicos como Borges,
Cecília Meireles, Machado de Assis, Drummond, Guimarães Rosa,
Juan Rulfo e Lewis Carroll
Eustáquio Gomes, o mestre
de A Febre Amorosa, está de volta. Em O Vale de Solombra,
seu novo livro lançado pela Geração Editorial, o escritor
mineiro radicado em Campinas traz o que parecia impossível: texto
e humor ainda mais refinados. Trata-se da história de Luís
Quintana, um livreiro meio São Tomé – só acredita
no que vê – que teve a vida virada do avesso, e seu amigo Benjamin,
tradutor que acredita nos sonhos. “Eustáquio Gomes reafirma-se como
exímio artesão e tece uma teia que nos sacode e segura”,
diz o escritor Hugo Almeida na apresentação do romance.
Os capítulos iniciais parecem
minicontos, mas aos poucos se percebe o elo que une personagens, trama,
tempo e espaço. Em linguagem poética, em alguns momentos
em tom de fábula, mistério, encanto e perplexidade atravessam
as páginas de O Vale de Solombra. Como nas boas histórias,
nesse romance há um pouco de tudo – livros e cartas, viagens e labirintos,
busca e fuga, passado e presente, memória e mistério, metafísica
e cotidiano, o Brasil e o mundo. Nele reverberam, em sutil homenagem, autores
como Jorge Luis Borges, Cecília Meireles, Machado de Assis, Carlos
Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Juan Rulfo e Lewis Carroll.
Além de contar com a “participação” de Richard Wilhelm,
o tradutor do I Ching, e seu amigo Carl Jung, que interpretava sonhos
como ninguém.
De Borges, podemos ver, por exemplo,
os labirintos, a multiplicidade de desenlace, a rede de tempos divergentes,
convergentes e paralelos do conto “O jardim de veredas que se bifurcam”
– e ainda temos um personagem chamado Funes, nome que dá título
a um célebre conto do escritor argentino. É possível
que Eustáquio Gomes tenha se inspirado também no último
livro de Cecília Meireles, Solombra, palavra do português
arcaico que depois virou sombra. Nesses poemas de Cecília o tempo
se amplia por todos os tempos, “todo horizonte é um vasto sopro
de incerteza”, como em O Vale de Solombra.
O que parece nortear a história
está expresso na primeira epígrafe do livro, estes versos
de A Divina Comédia, de Dante Alighieri: “Da nossa vida,
em meio da jornada/ Achei-me numa selva tenebrosa, / Tendo perdido a verdadeira
estrada”. A sombra de Minas que Drummond viu desaparecer, como Eustáquio
Gomes registra em uma das três epígrafes (“Minas não
há mais”), e permanece na obra de Guimarães Rosa (“Esses
gerais são sem tamanho”, outra epígrafe) está presente
no romance.
Do velho e sempre novo Machado,
Eustáquio Gomes herdou a arte de enredar o leitor com uma prosa
econômica e sublime, o humor inteligente, aquele tom machadiano inconfundível.
Em vários momentos de O Vale de Solombra sente-se algo da atmosfera
mágica e onírica de Pedro Páramo. Gatos de
Alice
no País das Maravilhas se esgueiram por esses labirintos. “O
resultado de tudo isso é o este pequeno e belo clássico moderno
que temos nas mãos”, acrescenta Hugo Almeida na orelha do livro.
“Uma joia lapidada por um habilidoso ourives, um romance para ser degustado
feito bebida preciosa.”
O Vale de Solombra, premiado
no Concurso de Apoio a Projetos de Publicação de Livros,
da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, é a 13ª
obra de Eustáquio Gomes (1952), mineiro de Campo Alegre, jornalista
e mestre em Letras pela Unicamp. De sua obra destacam-se os romances Jonas
Blau, O Mapa da Austrália e A Febre Amorosa, este traduzido
para o russo. O escritor está radicado em Campinas (SP) há
mais de trinta anos. Em 2009, aposentou-se como assessor de imprensa da
Unicamp e passou a se dedicar em tempo integral à literatura. Eustáquio
Gomes integra a geração de outros grandes escritores brasileiros
nascidos em 1952, como Milton Hatoum, autor de Dois Irmãos,
Ronaldo Costa Fernandes, de Um Homem é muito pouco, e Cristóvão
Tezza, de O Filho Eterno. Também do mesmo ano são
o turco Orhan Pamuk, Prêmio Nobel de 2006, e o norueguês Jostein
Gaarder, autor de O Mundo de Sofia.
22/07/2011
Blog da Geração Editorial
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