VIAGEM AO CENTRO DO DIA
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Diários
 


André Laurentino


 


Na minha estante guardo grandes diários (dos outros, portanto): Drummond, Saramago, Antônio Maria (engraçado e triste, mas difícil de achar), Katherine Mansfield, entre outros. Antonio Maria fez logo uma advertência: não vale escrever ali fazendo pose. E Eustáquio Gomes, no recém-lançado “Viagem ao centro do dia”, reconhece que escrever um diário é inventar, dentro da nossa própria vida, uma outra vida que queríamos levar. Ao selecionar os episódios que entram, e principalmente os que ficam de fora, estamos inventado um outro eu. Mais divertido, mais sensível ou até mais agressivo do que somos da caneta para fora.

Se você acha que não tem tempo, saiba que Churchill escreveu calhamaços nas horas em que não lutava contra Hitler. Se você tem um pouco mais de sossego que ele, acabou a desculpa.

Ao mesmo tempo em que insisto no seu diário, não sei para quê ele serve. Talvez para nos obrigar a pensar um pouquinho na vida, mesmo que isso esteja renegado às beiradas do dia, como diz o Eustáquio. Ou talvez sirva para a gente guardar alguma coisa que não seja dinheiro.
 

Caderno de Vidro, http://andrelaurentino.blogspot.com, 11/07/2007